Das casas que ocupavam uma área ao lado da Terracota Cerâmicas, a olaria que fica na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), sobraram apenas os escombros. Até hoje, seguem no local paredes destruídas, sofás, cadeiras, sapatos, geladeiras estragadas, telhas, garrafas, potes cheios de água suja, caixas de leite, embalagens de produtos de limpeza, carcaças de televisão e de um fogão a lenha, pneus velhos, carrinhos de mão, o que restou de uma impressora e de um aparelho de ar-condicionado, antenas, vassouras e até uma bicicleta ergométrica. Três meses depois da saída das 31 famílias que viviam no local, só restaram, inteiras, as casinhas dos cachorros e os próprios animais, que foram deixados para trás.
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– Quando eu chego aqui, de manhã, os cachorros fazem uma festa, porque, graças a Deus, o pessoal do RU (Restaurante Universitário) está ajudando, e a gente está alimentando os bichos que ficaram para trás. No total, ficaram cinco cachorros, que estamos cuidando aqui – diz o dono da olaria, Carlos Odorissi.

Ele arrenda, há 25 anos, a área onde funciona a empresa, que fica bem ao lado de onde moravam as famílias antes da reintegração de posse da região, que ficou conhecida como Vila Olaria.
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– Durante todo esse tempo, eu convivi com essas pessoas. Alguns deles eram, inclusive, meus funcionários. Com a saída deles, diminuiu o movimento na olaria, porque as pessoas acham que eu também estava ocupando a área de maneira irregular e que tive que sair. Mas, a gente segue aqui, trabalhando normalmente.
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Ainda de acordo com Odorissi, desde que as pessoas foram saindo, e as casas sendo demolidas, nada mais foi feito no local. Ele soube que há planos de uma revitalização do espaço. O Diário entrou em contato com a UFSM, mas não obteve retorno sobre os projetos da instituição para a área.
TERRENOS E ALUGUEL
As famílias que deixaram o local ganharam terrenos no Bairro Nova Santa Marta. Por enquanto, não há ninguém construindo imóveis ou morando na área. De acordo com moradores retirados da UFSM, a entrega dos lotes ocorreu há pouco tempo e, agora, eles estão preocupados em cercar suas propriedades para não perdê-las. Enquanto pensam sobre se vão ou não se mudar para tão longe das antigas residências, muitos estão pagando aluguel e enfrentando dificuldades para seguir a vida.

A reportagem conversou com uma mulher que morava na Vila Olaria com o marido, o pai, os filhos e os netos. Hoje, estão divididos em diferentes pontos da cidade. Ela e uma das filhas gastam R$ 1,5 mil por mês com aluguel, água e luz das peças onde vivem. Desesperançadas, ela e a filha não quiseram dar entrevistas porque acreditam que ¿agora, já não adianta mais nada¿.
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O advogado das famílias, Lauro Bastos, informou que uma audiência está marcada para a próxima semana com o objetivo de tratar da questão da posse das áreas destinadas a cada família. Até lá, devem ser concluídas a instalação do sistema de água e a ligação elétrica no local.
O PROCESSO
Em 2003, a família de Algemiro Alves Pereira, 84 anos, morador na olaria desde 1967, ingressou na Justiça com uma ação de usucapião da área. No entanto, em 2014, o Judiciário reconheceu o local como área federal e de posse da União. Em 2015, a UFSM entrou com o pedido de reintegração de posse. A Justiça decidiu, em última instância, que os moradores teriam de deixar o local.